Coisas que vejo, sinto, saboreio, cheiro, ouço e as que às vezes, muito de vez em quando, intuo.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Pequenas delícias






E com as trutas, e o vinho do Melchior, e a cabidela, em que a sublime anã de olhos tortos pusera inspirações que não são da Terra, e aquela doçura da noite de Junho, que pelas janelas abertas nos envolveu no seu veludo negro, tão mole e tão consolado fiquei, que, na sala onde nos esperava o café, caí numa cadeira de verga, na mais larga, e de melhores almofadas, e atirei um berro de pura delícia.”





Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras

quinta-feira, outubro 04, 2007




Estes são só alguns dos imensos amigos que se podem fazer na associação Midas!

Enquanto estive desempregada, passei algum tempo só a olhá-los, ouvi-los, compreendê-los. Passei horas lá no meio deles. Comecei por aprender a distingui-los, a chamá-los pelo nome em vez do beijinhos atirados para o ar acompanhados dos estalinhos de dedos. Depois fui-me apercebendo da postura de cada um, os sociáveis, os educados, os atrevidos, os cromos, os poderosos, os mau-feitio, os sempre amorosos e um pouco submissos, os misteriosos e sedutores...

Já não tenho oportunidade para ir tantas vezes, mas eles recebem-me como se lá tivesse estado no dia anterior!

Se vos apetecer conhecê-los melhor, basta ligarem para Dulce Mota, directora e a melhor amiga deles todos!


domingo, setembro 30, 2007





O mocho.












"Ah! Vou-te contar esta que me contaram ontem. Acho que vais adorar!" - atirou-me ela, com um sorriso rasgado pelo entusiasmo!


Um homem entra numa loja de animais. Quer comprar um papagaio que lhe faça companhia.
- Muito boa tarde! Diga-me uma coisa, vendem papagaios?
- Claro, com certeza! Graças a Deus, nunca deixamos um cliente insatisfeito!
Convencido que o homem não percebia patavina de animais o senhor do balcão foi buscar o mocho que já lá estava há muito. E não é que resultou! O homem saiu perfeitamente satisfeito com o seu novo companheiro.
Algum tempo depois encontram-se na rua e o senhor do balcão, trocista, pergunta-lhe como tem andado o papagaio, se já fala. Ao que o homem responde:
- Lá falar ainda não fala, mas olhe, presta-me uma atenção!..."





Deliciosamente simples. Coisa rara!



imagem

terça-feira, setembro 25, 2007


Ora bem... preciso de:

- uma espátula;
- um balde de tinta azul e outro de tinta branca (ver alternativas de cores);
- uma trincha e um pincel;
- uma fita de pintura;
- não deitar fora os jornais.


Não esquecer: renovar blog.


"Até parece mal!" diria a minha avó.

sábado, junho 09, 2007

LISBOETAS






















Vi há dias o documentário “Lisboetas” de Sérgio Trefaut.
A intensidade impera, o mal-estar é inevitável.

O nosso retrato ficou tão mal, que incomoda!

Acredito que maravilhosas excepções de solidariedade, sensibilidade e humanismo, tenham sido injustamente ignoradas; mas de igual forma sinto que precisávamos deste estalo para acordar.

Óptimo na fotografia, perfeito na pertinência dos detalhes e situações. Saímos mais ricos, mais conscientes! E se resultar, mais atentos daqui para a frente.

(Desculpem, mas não resisto em atirar esta:)
- Ó senhores nacionalistas!, não acham que ao responsabilizarem os imigrantes de tudo o que de pior acontece no país, estão a ter uma visão muito simplista e pouco profunda da realidade?...
Vá lá, sejam corajosos e tirem as palas!


Domingo, dia 9 de Junho às 23.30h – Lotação Esgotada na RTP: Lisboetas de Sérgio Trefaut.

quinta-feira, maio 10, 2007

quinta-feira, maio 03, 2007




















Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago

quinta-feira, abril 26, 2007

terça-feira, abril 17, 2007

Roy Lichtenstein - Sunrise


Surfing under the skin

A vida é como no surf. Umas vezes esperamos, deitados ou sentados nas pranchas, de olhos postos no horizonte à espera das boas ondas. Enquanto esperamos sentimos. Mesmo com aqueles fatos impossíveis de vestir de tão impermeáveis! Sentimos o amigo que está ao lado, e os que estão num momento, porque esperam o mesmo… Sentimos a passagem do tempo. Sentimos a nossa resistência, persistência e natureza. Para que quando a onda maior chegar, estarmos preparados, equilibrados e confiantes o suficiente para não a deixar passar.

E de repente, ela chega! Nunca vem sozinha. Mil oportunidades surgem de repente!
É possível que, por vezes, nos sintamos reticentes:
“Não será melhor apanhar a próxima?... Daqui parece que se vai formar melhor!... Se apanhar esta, provavelmente não chego a tempo àquela!”.
E elas vão passando. Uma atrás da outra… E nós à espera da melhor de todas:
“Ui! Esta não! É grande demais!! E..e… há corais, ainda por cima!…”
Apanhamos a última. Só para que saibam que apanhamos pelo menos uma.
“Grrr… Merda! Pensei demais.”

Mas noutras vezes, sentimo-nos compensados pela espera.
Ficamos eléctricos! Queremos aproveitá-las todas! Ávidos de acção, de adrenalina, vamos na crista de uma já a pensar na próxima! E aguentamos com todas, porque quem corre por gosto não cansa! Mas depois, domados pela gula, não nos concentramos o suficiente. E os túneis, os floaters, os aéreos não estão a resultar como de costume.
Precisamos de descanso, da prancha só a flutuar outra vez…

Eu estou no meio delas. Não quero desperdiçar as boas.
Para isso, preciso de manter a serenidade. Já apanhei algumas e curti milhões! Outras deixei passar. Achei melhor... Preparo-me para dar aos braços e pernas para apanhar esta! E se conseguir, rodopio um pouco! Daqui, já consigo ter a percepção das próximas. Parecem ser grandes…
Mas o melhor é esperar mais um pouco.
Quero vê-las bem de pertinho.

YHAA! AQUI VOU EU!

quinta-feira, abril 12, 2007
















"Mas eu não quero ir ter com os loucos", observou Alice.
"Não tens alternativa". retorquiu o Gato.
"Nós aqui somos todos loucos. Eu sou Louco, tu és Louca".
"Como é que sabes que eu sou Louca?" perguntou Alice.
"Deves ser", disse o Gato, "ou não terias vindo até aqui."

Lewis Carroll - "Alice no país das maravilhas"
(E nós por cá, temos alternativa? )

sexta-feira, março 30, 2007

elis e tom - aguas de março

Hoje estou uma mãos-largas!

Deixo-vos com um tesourinho nada deprimente!

quarta-feira, março 21, 2007

Dia mundial da poesia.
Início de Primavera.


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro
Bem-vinda Primavera! :)

segunda-feira, março 12, 2007


José Sócrates afasta entrada do nuclear em Portugal*

«Em Portugal, não usamos o nuclear, nem pretendemos usá-lo. A nossa aposta é nas energias renováveis», afirmou à entrada da cimeira de líderes da União Europeia (UE) que ontem arrancou em Bruxelas para fixar novos objectivos em matéria de energias limpas e redução dos gases responsáveis pelo efeito de estufa.
«Os países que quiserem tomar a opção do nuclear, façam o favor. Em Portugal, o nosso caminho está definido» e «já está a ser utilizado» através da aposta na energia eólica e da utilização do potencial hídrico do país que «está desaproveitado», afirmou Sócrates."

Há cimeiras que fazem jus ao nome. Estão lá no alto, no cimo da pertinência.
E há decisões que fazem todo o sentido!
E quando assim é, a satisfação é revigorante...


*Isabel Arriaga e Cunha
in Público, sexta-feira 9 de Março 2007

quinta-feira, março 08, 2007

terça-feira, março 06, 2007

"(...)Now I´m not looking for absolution

Forgiveness for the things I do

But before you come to any conclusions

Try walking in my shoes

Try walking in my shoes

You´ll stumble in my footsteps

Keep the same appointments I kept

If you try walking in my shoes

If you try walking in my shoes (...)"

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Arte da Respiração*

"O que busco não é a felicidade mas o contacto. Olhar melhor, saborear pausadamente o bocado que me cabe e abrir as portas do meu corpo ao outro de mim aparentemente exilado. Não é do amor que falo, tão pouco de dádiva mas apenas de abrir-me e deixar entrar o ar e derramar-me no chão obscuro que tudo envolve."

Olhem a sério, e saboreiem devagar.
O amor, esse flui naturalmente... mas só depois.

*Casimiro de Brito

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Porque SIM!

“Porque acredito que a esmagadora maioria das mulheres grávidas está numa posição privilegiada para lidar com todos os problemas éticos que a decisão de abortar implica. Mais do que eu, do que um juiz ou de que um médico. E porque não acredito que a lei actual evite um único aborto. Só os torna mais perigosos, mais traumáticos e mais humilhantes.”

Daniel Oliveira in Expresso

quinta-feira, janeiro 25, 2007



My Way…

Durante um ano, pisei várias vezes o mesmo caminho. Os mesmos passeios conduziam-me até à estação de metro mais chegada, que por sua vez me largava noutra com os mesmos outros passeios que me levariam até à rua onde trabalhava. Que por sorte era na baixa da cidade.
Ao fim de alguns dias, eram certos alguns companheiros de viagem.
A caminho do metro ficava um café pequenino com uma mesa junto à janela. Era nela que encontrava sempre um senhor de respeitosas cãs, a ler o jornal. Sempre na mesma mesa, encostado à luz e a quem passa. Só lhe conheço o perfil. E a posição, essa reconheço-a: inclinado para o jornal, os pés paralelos, braço direito sobre a mesa, mão no cimo da página, os dedos médio e polegar quase a virá-la. De “nariz meio empinado” e as sobrancelhas erguidas, passava o olho a cada artigo. Vi-o em Janeiro, bastante agasalhado, e em Agosto de calções e t-shirt. Não sei se era o dono, se cliente desde sempre e enquanto puder.
Estava sempre na mesma mesa, à mesma hora, a ler o jornal.
Nunca mais o vi.
Nunca mais passei pelo café àquela hora…

Na última estação, era largado sempre ao mesmo tempo que eu um rapaz de cabelo até à cintura, perdido nos seus pensamentos, ou simplesmente tímido, e sempre de preto. As unhas mal pintadas de vermelho, a cara marcada de batôn e as calças acinzentadas por estarem do avesso, eram indícios óbvios de “caloirices”. Espero que tenha sabido aproveitar bem as descobertas e surpresas do primeiro ano.
Saíamos praticamente ao mesmo tempo. Mal púnhamos o pé na rua, recebíamos os bons dias do distribuidor dos jornais gratuitos. Tinha óculos, cabelo naturalmente desarranjado, muito enérgico para aquela hora da manhã! Fazia questão de dar os bons-dias e os dois jornais a todos. Parecia impraticável, mas ele lá conseguia que ninguém lhe escapasse.
Estavam sempre na mesma estação, à mesma hora.
Nunca mais os vi.
Nunca mais fui largada daquela carruagem, naquela estação, àquela hora.


Mas recordo-os, com imenso prazer!

Acerca de mim

A minha foto
"Não pedi para participar neste comércio do Ser, ninguém pode pedir nada às suas origens e não tenho mais do que uma importância mínima no comportamento do todo. E no entanto! A guerra dos Ser e implacável e estou dentro dela, nas suas múltiplas combinações do mundo e em cada uma delas o meu peso faz oscilar a balança para um lado ou para o outro e seja invisível ou não a carícia ou o golpe que me sai da mão sempre será transformação do todo que, queira ou não, sou." Casimiro de Brito