Coisas que vejo, sinto, saboreio, cheiro, ouço e as que às vezes, muito de vez em quando, intuo.

quinta-feira, janeiro 25, 2007



My Way…

Durante um ano, pisei várias vezes o mesmo caminho. Os mesmos passeios conduziam-me até à estação de metro mais chegada, que por sua vez me largava noutra com os mesmos outros passeios que me levariam até à rua onde trabalhava. Que por sorte era na baixa da cidade.
Ao fim de alguns dias, eram certos alguns companheiros de viagem.
A caminho do metro ficava um café pequenino com uma mesa junto à janela. Era nela que encontrava sempre um senhor de respeitosas cãs, a ler o jornal. Sempre na mesma mesa, encostado à luz e a quem passa. Só lhe conheço o perfil. E a posição, essa reconheço-a: inclinado para o jornal, os pés paralelos, braço direito sobre a mesa, mão no cimo da página, os dedos médio e polegar quase a virá-la. De “nariz meio empinado” e as sobrancelhas erguidas, passava o olho a cada artigo. Vi-o em Janeiro, bastante agasalhado, e em Agosto de calções e t-shirt. Não sei se era o dono, se cliente desde sempre e enquanto puder.
Estava sempre na mesma mesa, à mesma hora, a ler o jornal.
Nunca mais o vi.
Nunca mais passei pelo café àquela hora…

Na última estação, era largado sempre ao mesmo tempo que eu um rapaz de cabelo até à cintura, perdido nos seus pensamentos, ou simplesmente tímido, e sempre de preto. As unhas mal pintadas de vermelho, a cara marcada de batôn e as calças acinzentadas por estarem do avesso, eram indícios óbvios de “caloirices”. Espero que tenha sabido aproveitar bem as descobertas e surpresas do primeiro ano.
Saíamos praticamente ao mesmo tempo. Mal púnhamos o pé na rua, recebíamos os bons dias do distribuidor dos jornais gratuitos. Tinha óculos, cabelo naturalmente desarranjado, muito enérgico para aquela hora da manhã! Fazia questão de dar os bons-dias e os dois jornais a todos. Parecia impraticável, mas ele lá conseguia que ninguém lhe escapasse.
Estavam sempre na mesma estação, à mesma hora.
Nunca mais os vi.
Nunca mais fui largada daquela carruagem, naquela estação, àquela hora.


Mas recordo-os, com imenso prazer!

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem Bruxa. Escreves bem, simples e sobre coisas com que toda a gente se relaciona.

Beijo Lucas

Magal disse...

padrinho,

Que prazer ter-te de volta!
Ainda bem que gostaste.
Tu percebes-me bem...

Beijos,
Bruxa Magal

Muriel disse...

A rotina pode ter momentos mágicos, mas só nos damos conta quando a rotina é quebrada.
A nossa "rotina" sempre foi mágica e valiosa. Com saudade lembro, com a certeza que sempre me dei conta da magia e valor da nossa amizade :)

Beijos ENORMES

PS - até que enfim que voltaste a escrever... estava à espera desde o Natal... ufa!

Magal disse...

Linda Muriel,

AH! Que bem que me soube a tua visita!
É claro que o nosso dia-a-dia, por mais rotineiro que seja, está repleto de particularidades maravilhosas. Só temos de estar atentos a elas...

beijos enormes e visita-me sempre que te apetecer!

Ps: As amizades são sempre valiosas, mas sim a nossa é mágica!

Cláudia Cunha disse...

Tu acompanhas-me agora em cada metro que apanho, em cada banco que sento, em cada calçada que piso, em cada pessoa que reparo, em cada rua que percorro, em cada badala do Clérigos que ouço... Sempre comigo! ;-*

Magal disse...

Linda Cláudia,

É uma delícia encontrar quem pise, repare, sinta, aprecie como nós.

Beijos e o nosso abraço!

Acerca de mim

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"Não pedi para participar neste comércio do Ser, ninguém pode pedir nada às suas origens e não tenho mais do que uma importância mínima no comportamento do todo. E no entanto! A guerra dos Ser e implacável e estou dentro dela, nas suas múltiplas combinações do mundo e em cada uma delas o meu peso faz oscilar a balança para um lado ou para o outro e seja invisível ou não a carícia ou o golpe que me sai da mão sempre será transformação do todo que, queira ou não, sou." Casimiro de Brito